13 outubro 2013

ENTREVISTA COM ROBERTO MENESCAL


É com muito prazer que faço essa matéria com um dos ícones da música brasileira e mundial, e um dos fundadores do ritmo que encanta o mundo, a BOSSA NOVA. Ele é referencia para vários músicos no planeta e é brasileiro. Descontraído e gente boa, vamos conhecer um pouco da história do maestro ROBERTO MENESCAL. Com vários projetos feitos na música, recentemente MENESCAL lançou uma obra de arte que não pode faltar na estante dos amantes da música, seu PLAY ALONG. O meu já está comigo. Parabéns pela obra de arte MENESCAL.


Adilton: Menescal onde você nasceu? 
Menescal: Vitória, Espirito Santo

Adilton: Quando começou o interesse pela música?
Menescal: Que me lembre, a primeira manifestação foi quando eu tinha 11 anos de idade. Meu pai me deu uma gaitinha de plástico de uns três centímetros e quando ele voltou à noite, eu toquei para ele "Asa Branca"

Adilton: Você é um excelente compositor, tem varias músicas de sucesso. Fale um pouco desse processo de compor. Quais os principais itens para uma boa composição?
Menescal: A composição para mim tem sido quase um processo de análise, pois através disso, ponho pra fora "os bichos” e não preciso gastar dinheiro com analista, ao contrário, até dá para ganhar algum. Meu processo de compor não é muito pela inspiração e sim pela transpiração, é chegar e trabalhar.

Adilton: Fale do seu inicio, das dificuldades encontradas.
Menescal: Não posso falar muito em dificuldades, pois sempre tive sorte de estar nos lugares e momentos certos. Estava morando no Rio, lugar e época do começo da Bossa, e um momento do século onde todas as transformações sociais e culturais aconteceram, não somente no Brasil, como no resto do mundo.

Adilton: Quais foram  as suas influencias na música? 
Menescal: Fui muito influenciado pelos grandes musicais de cinema dos anos 50 e 60. Curtia muito jazz e por não saber tocar bem a batida de samba, fui procurando fazer uma e assim como nossos colegas, achamos a "batidinha da Bossa". Curti muito os grandes Boleros e Sambas-Canção.

Adilton: Eu leio muito sobre sua carreira e vi que você estudou com o Edinho do Trio Irakitan. Fale um pouco dessa experiência. Depois do Edinho, quem foram surgindo para sua formação musical? 
Menescal: Edinho era o violonista e arranjador de um grupo vocal chamado "Trio Yrakitan” e me ensinou muita coisa no violão. Quando eu estava começando conheci Carlos Lyra, que também me ensinou muito e fui "roubando"os acordes de todos que eu encontrava. Mais tarde estudei com Moacyr Santos, Guerra Peixe, e o resto fui aprendendo com a vida.

Adilton: Como nasceu um dos maiores movimentos musicais do mundo, a bossa nova? 
Menescal: A BN foi surgindo espontaneamente como uma música necessária para uma geração de jovens, que despontava com novas idéias e atitudes que mudaram o comportamento estético das gerações passadas, aqui no Brasil e no resto do mundo (vide os Beatles).

Menescal, cantora Cris Delano e Adilton do Nascimento

Adilton: Os seus principais parceiros da época? Fale um pouco de cada um deles. 
Menescal: Meu primeiro parceiro e o mais constante também foi o Ronaldo Boscoli, jornalista, mais velho que a gente, muito inteligente, sagaz, e com uma visão muito moderna do que viria a ser o próximo estilo de arte no mundo. Fizemos cerca de 300 músicas. Tive outros como Lula Freire com quem trabalhei muito. Continuo fazendo música com quem me aparece com propostas interessantes.


Adilton: O seu primeiro encontro com o João Gilberto foi em uma festa na sua casa, conte para nós como foi.
Menescal: Eu ouvia falar muito sobre João e uma noite ele bateu lá em casa, aliás, no único dia em que meus pais deram uma festa em casa. Quando vi que era o João Gilberto, troquei de roupa e me mandei com ele pela noite à dentro, parando em várias casas de amigos mostrando aquele que veio logo adiante a ser nosso grande sucesso.

Adilton: Fale um pouco de sua experiencia no exterior com a nossa música.
Menescal: A nossa música nos jogou no mundo, antes de estarmos preparados, pois não tínhamos noção de que poderíamos fazer algo lá fora. Somente chegando em NY no ano de 62, é que entendemos que a BN já estava lá antes da gente chegar, e aí vimos que o mundo estava se abrindo para nós.

Adilton: As suas principais interpretes. Comente sobre elas.
Menescal: Meu parceiro me apelidou de “Rabo de cometa”, pois estava sempre atrás de uma estrela. Fui gravado por vários cantores logo no meu começo de compositor como: Nara, Sylvia Telles, Pery Ribeiro, Alaide Costa, Lucio Alves, Agostinho dos Santos, Maysa etc... Mais tarde , Elis Regina, Zizi Possi, Emilio Santiago, Nana Caymmi, Leila Pinheiro, Wanda Sá, Joyce, Os Cariocas e mais dezenas de artistas fabulosos.

Adilton: Num determinado momento a bossa nova se divide entre os puristas e os que seguiram a música de protesto, comente. 
Menescal: Quando veio a revolução, sentimos que nossa música não tinha o assunto necessário à época, pois a música passou a ser a grande arma dos intelectuais para a luta contra aquela situação, então, não querendo aproveitar, mudando nosso estilo, nos recolhemos e só voltamos a aparecer novamente por volta dos anos 80. Nesta época de recolhimento como compositor, fui estudar orquestração com o Maestro Guerra Peixe.

Adilton: Fale do concerto no Carnegie Hall, 21 de novembro de1962.
Menescal: O Show do Carnegie Hall foi um divisor da maior importância nos rumos da Bossa Nova. Fomos para lá, como já disse, sem sabermos da importância de nossa música naquele país, e ao chegarmos, vimos que os músicos de Jazz já gravavam nossa música e conseguiam ótimas colocações nos Hit Parade, o que nos abriu oportunidades no mundo inteiro. O Show do Carnegie Hall foi concorridíssimo pelos artistas que queriam se apresentar naquela noite, e também pelo público que lotou o teatro e pelos que não conseguiram entrar. Depois dessa noite, nossa turminha da BN acabou, pois nossas reuniões de todas as noites acabaram já que cada um foi aproveitar essa oportunidade que se abria, ficando uns em NY, outros em Los Angeles, outros no México, outros em Paris, etc...

Adilton: A bossa nova é uma das músicas mais ouvidas no mundo. Como foi essa propaganda mundo a fora?
Menescal: Foi uma decorrência natural pois não tínhamos experiência em Marketing, (imaginem se tivéssemos internet naquela época). Apenas as pessoas gostavam, compravam os discos e levavam para seus países,difundindo nossa música.

Adilton: Você esteve muito tempo na Polygram, como foi essa experiencia? 
Menescal: Quando começou o movimento musical de protesto, que lutava contra a ditadura instalada no nosso país, fui convidado para ser diretor artístico da Polygram. Senti que seria uma oportunidade boa de trabalho nessa época que nossa música ficou hibernando, peguei essa missão e mais uma vez tive sorte, pois era o momento da grande virada do do disco no mundo e a Polygram formou um Cast notável de artistas novos e de muito talento, que ajudaram a gravadora atingir o primeiro lugar no mercado nacional, e mais uma vez, estava eu no lugar e época certos.

Adilton: Comente da famosa Rua Nascimento e Silva  e de sua amizade com nosso saudoso Tom Tobim.
Menescal: Mais uma de minhas sortes. Eu morava em Ipanema pertinho do nosso compositor maior, nosso grande mestre, e que me dava a maior guarida, me chamando sempre em sua casa e me ensinando muitas coisas (sem mostrar que estava ensinando). Foi uma fase da maior importância na minha vida. "Benção meu mestre Jobim".

Adilton: Fale um pouco da sua parceria com a cantora Wanda Sá e do show declaração, que inclusive, por intermédio de Alonso Delpino (Calcario Maravilha), e do gerente executivo sesi/senai, Gregory Guzowski, estou tentando trazer aqui no sesc de Itaperuna. 
Menescal: "Declaração”, como o próprio nome diz, é uma comemoração desses quase 50 anos de amizade e parceria entre Wanda e Eu. Fui professor dela no violão, fui produtor de seu primeiro Long Play, fizemos shows pelo Brasil todo e por muitos lugares por esse mundo a fora, e por isso tudo, resolvemos comemorar toda essa nossa "viagem".

Adilton: Dê algumas dicas para os músicos que estão começando agora.
Menescal: Cara, não me sinto capaz de dar conselhos a ninguém, pois o que funcionou comigo não obrigatoriamente funcionaria com alguém mais. O que posso dizer é que tente ficar focado o tempo todo no que escolhemos como profissão, desejo e quase religião, pois nada melhor do que conseguir viver de música.

Adilton: Agradecimentos.
Menescal: Agradeço a Deus e ao mundo por conseguir trabalhar intensamente naquilo que ajudei a criar há 50 anos atrás, quando a maioria nessa fase de vida, já estaria parando, se aposentando, desistindo. Posso dizer que essas palavras não se encaixam em mim, pois me sinto muito garoto tocando minha guitarrinha. Agradeço a você Adilton do Nascimento, grande músico, por abrir esse espaço para contar um pouco de nossa história. Abraços, Menescal